Versão curta
Começa bem e cai no final. Não por ter se distanciado de Jornada nas Estrelas, mas por não ter se distanciado o bastante.
Versão longa.
Quando soube que um remake da série clássica de Jornada nas Estrelas estava sendo feito, tive três certezas:
1 – Os fãs continuariam a chorar e ranger os dentes antecipando uma desgraça;
2 – A continuidade com o material anterior não seria respeitada;
3 – Haveria alguma espécie de viagem no tempo na trama.
Acertei nas três. Não que me importasse com alguma delas, pois não tinha intenção de ver o novo filme. As últimas tentativas no cinema e a maneira pífia como a última série de TV foi encerrada destruíram qualquer paixão que eu ainda nutria pela franquia.
Este novo filme, entretanto, prometia re-imaginar a série clássica e não se prender ao cânone anterior. Verdade seja dita, Jornada nunca primou pela coerência interna ou por respeito ao próprio cânone. Mas esse não é o ponto – J. J. Abrams realmente se propôs a desafiar tudo aquilo que sabíamos a respeito dos personagens e do universo.
E isso não foi ruim.
Ao contrário, o diretor não foi nada senão honesto e, tendo jogado o cânone pela janela, conseguiu juntar pedaços dele o suficiente para tornar a trama e os personagens reconhecíveis para os fãs. Os atores, aliás, estão quase todos muito bons – a caracterização de Karl Urban como Dr McCoy chega a assustar de tão perfeita e Zachary Quinto consegue impor um estilo próprio ao seu Spock e ao mesmo tempo permanecer fiel ao que conhecemos do cientista vulcano. A agradável surpresa fica por conta da moça que faz Uhura, que injeta uma nova vida a uma personagem que, apesar de conhecermos há quase 50 anos, quase nada sabíamos a respeito. Gostei particularmente da interpretação de Bruce Greenwood como Christopher Pike.
O filme começa muito bem, mostrando detalhes da juventude de Kirk e Spock e de como os personagens se conhecem. Há um nível de caracterização ali que eu confesso não ter esperado encontrar. A trama vai tomando um rumo interessante, até que um alerta soa na Academia da Frota e, por falta de pessoal, os cadetes são postos a bordo de todas as naves disponíveis para partir numa desesperada missão de resgate em Vulcano.
E aqui termina a parte do filme que eu gostei.
Do momento em que o alerta vermelho soa até o final do filme, J. J. Abrams começa a se levar a sério e o filme repete todos os clichês ruins da Space Opera, as mesmas tentativas de piadinhas, as mesmas gags de filmes de ação, o mesmo technobabble… e parece ficar o tempo todo se dando tapinhas nas costas pela esperteza. Opta pelo som e fúria e esquece o bom caminho que estava tomando. Oferece mais do mesmo e do manjadíssimo. Um porre de chato.
Em suma, torna-se o que Jornada nas Estrelas teve de pior desde 1993.
Não se trata de ser um fã rabugento aqui, mas de reconhecer que tiroteio, música alta e efeitos especiais não podem substituir caracterização e roteiro. Não precisava ser um lance todo sério e realista como o novo Battlestar Galactica. Bastava ser boa Space Opera, e podia ter conseguido.
Talvez uma nova franquia se inicie e talvez alguns desses erros sejam corrigidos. Duvido muito que eu esteja a bordo para conferir. Jornada nas Estrelas e eu mudamos muito desde que nos conhecemos e tentar reatar a relação agora depois de tantos problemas só traria mais dor de cabeça. Melhor reconhecer que não há mesmo chance de reatar o casamento e seguir com vida.
Além do mais, Battlestar Galactica acaba de me apresentar uma prima gostosinha e acho que pode rolar alguma coisa… :-)
10/05/2009 às 10:42 |
A prima eu já vi primeiro… ;-)
Mas é como eu te disse até… se fosse algum projeto totalmente novo, eu ia me amarrar.
De resto, alguma hora eu vou tomar fôlego e falar o que eu achei de bom naquele filme, como o Karl Urban “channeling without effort”, como definiu o Peter David.
10/05/2009 às 12:21 |
Cara, mas tem muita coisa boa nesse filme. Muita coisa MUITO boa, mesmo. Só que ficou um pastiche do meio pro final e aí cagou tudo :-P
Acho até que vou editar a postagem acima para reforçar as partes que eu gostei.
10/05/2009 às 12:52 |
De zero a dez, se possível for?
10/05/2009 às 14:22 |
Cincão, mais meio ponto pela coragem de implodir Vulcano e mostrar a que veio. Pô, 5.5 já é melhor que que ST V – mas a média para passar de ano é 7.0 ;-)
Aliás, só por completeza, eis os meus scores para cada filme:
TOS
ST the Motion Picture: 9.0
A Ira de Khan: 9.0
À Procura de Spock: 6.5, mas passou na recuperação.
A Volta para Casa: 7.0
A Fronteira Final: 4.0
A Terra Desconhecida: 8.5
TNG
ST VII: 4.0
Primeiro Contato: 6.9, mas passa sem precisar de recuperação.
Insurreição: 5.0
Nemesis: Zero.
10/05/2009 às 16:47 |
como você é benevolente, amor…
to no três e caindo vertiginosamente…
10/05/2009 às 17:46 |
Carina, eu sabia que vc não ia me decepcionar… :)
Tou montando mais um post enorme sobre essa merda… tá difícil de exorcizar, somatizei e o escambau…
10/05/2009 às 18:25 |
Hahahahahahahahaha!
Cara, faz que nem eu… hoje já mal lembro daquela merda e estou bolando o nosso joguinho de BSG :-)
10/05/2009 às 18:28 |
É, terá que ser por ai…
Uma coisa que andei pensando…
Sabe pq nego parece – a mim, ao menos – tão ávido por receber esse filme?
A mesma coisa que os filmes do Batman do Tim Burton: os filmes que vieram depois foram tão piores que os dele passaram a parecer bons.
Qual o referencial que se tem mais próximo desse Star Trek? Pois é. Pra muita gente, a salvação da lavoura…
10/05/2009 às 18:35 |
Ué, mas foi o que eu disse para a Carina na saída do filme. Por mais merda que esse filme tenha sido, ele ainda consegue ser muito melhor que a safra recente de cinema e TV. Por si mesmo ele não se destaca, mas é uma… ahem… evolução.
11/05/2009 às 00:57 |
É. Ahem.
15/05/2009 às 10:57 |
Acho que finalmente entendi o que vc quis dizer com não se afastou o suficiente. Deveriam ter dado uma cortada seca, sem oferecer nenhuma explicação. Explicações podem ser conversadas, debatidas, e mesmo contra-argumentadas.
Pra piorar ainda: o Fantasma das Cronologias Passadas está lá, e vivo. Ele não somente se lembra de tudo o que lhe aconteceu ou ao mundo que conhece, eventos inclusive que ocorrerão independente dos esforços da Federação, mas como evitá-los ou como contorná-los, sejam guerras entre outras nações, sejam eventos como V’Ger ou aquela sonda maluca do IV – é, aquela sonda maluca do IV, onde ele teve que viajar no Tempo para pegar uma baleia e salvar a Terra. Ele sabe como fazer isso. Ele tem o know-how. Ele não o faria por seu próprio mundo, sua raça e sua mãe… por que, mesmo?
Porque simplesmente se os fãs não gostarem das mudanças, ele o poderia fazer em um filme próximo. Esse é o compromisso. Ele é a carta na manga. Ou deveria dizer, o compromisso em não se comprometer…
Não tenha dúvidas. Para se manter a integridade da nova cronologia – em mais de um sentido -, simplesmente Spock… must… DIE!
15/05/2009 às 11:21 |
O “não se afastou o suficiente” tem dois lados. Um é esse que você acaba de apontar, e creio que a longo prazo é o mais importante. Imediatamente, porém, tem a ver com o “mais do mesmo”: música alta e repetitiva, seqüências de ação que vão do nada para lugar nenhum, perseguições e piadinhas que não avançam a trama, etc…
Bad Storytelling, enfim, do mesmo tipo que ST vem sendo submetida desde 1993 pelo menos.