A última vez que fui na Bienal do Livro aqui no Rio foi em 2001. Seis edições mais tarde, volto lá como autor para encontrar o cenário um pouco mudado. A festa continua sendo organizada no Riocentro, que talvez seja o único espaço na cidade amplo o bastante para receber tamanho número de expositores e visitantes. Infelizmente, continua sendo um pesadelo chegar no Riocentro – especialmente agora, com todas as obras de BRT, Metrô e até do Rock in Rio acontecendo no caminho. Saí ontem às 9 da manhã e cheguei às 11h15. Metade desse tempo foi gasta só no trajeto entre o Terminal Alvorada e o Riocentro. Como escreveu o Zuenir Ventura na quarta-feira, a Bienal do Rio é muito legal, pena que fique na Barra da Tijuca e não no Rio.
Como autor e tendo vindo de transporte público, não tive que pagar um centavo para entrar no evento propriamente dito. É uma das coisas que me aborrece na Bienal, aliás: o local é afastado, é complicado ir embora de transporte público, por causa dos engarrafamentos ou do sumiço dos ônibus depois de certa hora; é preciso pagar um ingresso não muito barato e o estacionamento idem. E trate de levar um lanchinho, porque todos os quiosques de alimentação lá não têm vergonha de cobrar duas ou três vezes mais do que em outros lugares. Um almoço executivo com promoção “para estudantes” sai por volta de 50 reais.
Sobre a Bienal em si: muitos, muitos jovens presentes. Inúmeros ônibus de excursão lotavam os pátios e injetavam milhares de estudantes de escolas públicas de todas as séries no Riocentro. Lá dentro, os stands mais diversos estavam sempre cheios de crianças e jovens folheando livros. Verdade que a maioria dos títulos que compravam eram os livros “da moda”, ou quadrinhos em promoção por 5,50, ou os mangás mais populares – mas isso não chega a ser um problema. O nome do jogo é “literatura de entretenimento”, e se é isso que a garotada compra, é isso que as livrarias vão vender. Naturalmente, os stands que mais enchiam eram o da Comix, o da Panini e os das editoras e livrarias com os romances baseados em videogames da série Assassin’s Creed e similares.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à literatura religiosa. Vi uns cinco ou seis stands de livrarias religiosas, sem contar o das tradicionais Edições Paulinas e Loyola, que sempre estiveram lá (pelo tanto que me lembro, ao menos). Muitas eram especializadas em livros evangélicos e neopentecostais. Havia um curioso stand sobre o Alcorão, com a presença de um clérigo barbudo de óculos e várias mulheres com a cabeça coberta e a face à mostra. Fiquei com vontade de olhar este último mais de perto, mas algo no olhar do clérigo me intimidou. Ele, as mulheres e o stand pareciam estar lá para angariar convertidos…
Havia alguns stands de livros esotéricos também e muitos, incontáveis títulos de auto-ajuda espalhados por toda a bienal. Será que sempre foi assim, ou eu passei a reparar mais nisso agora? Fica a dúvida.
Senti muita falta da presença de livros técnicos na área de exatas nos stands das livrarias de universidades. Havia um bocado dos títulos nas áreas de sociologia, história e filosofia, além das arengas de sempre contra e a favor do comunismo e do capitalismo. Como eu adoraria que os dois sistemas morressem de uma vez e nos deixassem desenvolver algo mais apropriado ao século XXI!
O pequeno stand da LeYa tinha o meu livro (yay!) e vários outros. É uma editora muito eclética, com livros em todas as áreas. Um dos novos lançamentos era o livro de um pastor evangélico que afirmava que a física quântica provava a existência de Deus e dos milagres – que, é claro, estava em maior destaque que o Pura Picaretagem. Fazer o quê, não é mesmo? Ali na LeYa comprei um “História Ilustrada da Física Quântica”, um livrinho delicioso altamente recomendado. Encontrei meu primo ali, e percorri o resto da feira com ele.
Não tive muita oportunidade de olhar as estantes com a calma que gosto, por causa do barulho da garotada e das filas imensas por toda a parte. Para falar a verdade, tinha acordado passando não muito bem, então não tive disposição para ficar até as 16h, quando haveria uma palestra que eu tinha alguma vontade de assistir. O prospecto de pegar o trânsito do Rush no Recreio e na Barra não me animou muito também… assim, depois de rodar nos três pavilhões por duas vezes e depois de desistir de comprar Os Companheiros do Crepúsculo no stand da Comix (o desconto não estava atraente), resolvi encarar as duas horas de volta para casa.
Foi um bom reconhecimento de terreno.
Pretendo voltar lá no último dia, domingo dia 8. Com sorte, haverá menos estudantes simpaticamente barulhentos e um pouco mais de tempo para olhar os livros com calma. Se vocês estiverem por lá, apareçam no stand da LeYa — E07, Pavilhão Azul — e a gente bate papo. Até lá!