Bio na Rua

31/10/2018

Bio na RuaInaugurando o retorno deste blog às atividades de divulgação científica, conversei com minha amiga Luiza Melki, aluna de mestrado de Paleontologia da UFRJ, que neste próximo sábado estará participando da 17ª edição do “Bio na Rua“, evento destinado a mostrar ao público que trabalhos estão sendo desenvolvidos pelos estudantes de Biologia da universidade.

O evento acontecerá no Parque Madureira, na área da pérgola.

Confira a entrevista abaixo!

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Alguém na escuta?

31/10/2018

Nada como passar um 31 de outubro fazendo um pouco de necromancia internética, certo? Então vamos fazer um teste: algum dos amigos e leitores deste blog ainda está por aí, com interesse nos temas de divulgação científica e ocasionais comentários sobre cultura e política? Aliás, alguém ainda lê blogs em pleno 2018, a era da pós-verdade e do whatsapp? Mandem notícias!

Um abraço,
Dbohr

 

Bienal do Livro de 2013, round 2

12/09/2013

Voltei à Bienal do Livro no último dia, domingo dia 8 de setembro e posto agora as impressões dessa segunda visita.

Foi muito legal ter o crachá de “autor” pendurado no pescoço, entrar de graça e procurar descontos para profissionais do livro. Mas a experiência completa de entrar como autor vai ter que ficar para uma próxima vez — talvez quando eu puder sentar e dar autógrafos a pedido da editora. Eu poderia ter feito isso no domingo, mas entre minha extrema timidez de chegar lá no stand da Leya e me apresentar como autor e o fato de não ter encontrado nenhuma das pessoas da editora com quem já tinha conversado por e-mail, fiquei só na entrada franca e no autógrafo para um amigo.

De resto eu gostei bastante. As legiões de estudantes continuavam lá, mas não mais de uniforme, nem transportados por ônibus fretados, mas agora vinham com suas famílias. E quantas! Muitas, muitas além das tradicionais consumidoras de livros que lotam toda Bienal. Muitas famílias pardas e negras, bem mais do que eu me lembrava em 2001, o que é sempre uma boa coisa. O mote da feira é cada vez mais o livro como mídia de entretenimento; e certamente o público procurava mais por esse tipo de literatura do que por outra coisa. Mas não acho isso necessariamente ruim — os amantes de outro tipo de literatura sempre estão lá e pela primeira vez em muito tempo eu pude ver com meus próprios olhos o que já lia e via sendo comentado pelos entendidos do mercado: nosso povo está de fato lendo cada vez mais.

Anotei o nome de alguns livros para procurar depois (o orçamento estava apertado, como sempre) e além do “Guia Ilustrado da Teoria Quântica”, que mencionei antes, levei também o lançamento do amigo Octavio Aragão (“Reis de Todos os Mundos Possíveis”) e algo que procurava há quase 17 anos… “Os Companheiros do Crepúsculo”, genial quadrinho do francês Bourgeon, sobre as aventuras fantásticas e oníricas de uma moça camponesa e seus improváveis companheiros pela França durante a Guerra dos Cem Anos. Saiu uma tradução brasileira pela Nemo — eu conhecia a versão portuguesa, que li em 96 ou 97, mas não pude ler o terceiro e último volume da história. Agora o ciclo se fechou.

Foi um belo passeio. Pretendo voltar em 2015 — quem sabe como autor, mesmo, e não apenas com um crachá de entrada franca?

Em nome da honestidade intelectual

11/09/2013

Eu prometi que não ia entrar em detalhes e não vou. Mas em nome da honestidade intelectual, preciso dizer que deixei de ser ateu recentemente.

Não que eu tenha me convertido a alguma igreja, ou tenha passado a seguir alguma religião, nem nada disso. Continuo achando que o deus da Torá, da Bíblia e do Corão seja uma amálgama de várias crenças do antigo oriente médio e que já está mais que na hora de deixarmos de pautar nossas vidas modernas pela moral de povos do deserto de 3 mil anos atrás.

Talvez o mais correto (para quem ainda se importa com rótulos e descrições) fosse dizer que, no Espectro Dawkins de Probabilidade Teística, eu passei de 6 para 3, embora eu relute muito em assinalar uma “probabilidade” à existência de qualquer entidade divina. Não é isso que “probabilidade” significa, afinal.

Mas em que eu acredito agora, afinal? Talvez fosse melhor perguntar o que mudou. E o que mudou foi muito pouco. Continuo cético a respeito das picaretagens de sempre. Continuo fortemente favorável ao Estado Laico e contra a mistura vil entre política e religião que é tão popular por aqui. Continuo achando absurdas as apropriações indevidas da ciência pelas forças da superstição e da crença cega. Sigo achando que a Evolução se deu por obra da Seleção Natural, não sendo guiada por nenhuma intenção. Não sei se há vida após a morte e reencarnação (ainda acho que não) e pretendo seguir vivendo a vida como se não houvesse nem punição, nem recompensa depois dela.

O que mudou, portanto, é a sensação de haver algo mais por aí que não posso provar e sobre o que considero fútil debater. A redescoberta da “fé”, por falta de palavra melhor, foi algo muito pessoal e não espero que ninguém mais entenda.

Talvez um dia eu consiga expressar melhor o que penso e sinto, mas por ora prefiro deixar assim.

Bienal do Livro 2013

06/09/2013

A última vez que fui na Bienal do Livro aqui no Rio foi em 2001. Seis edições mais tarde, volto lá como autor para encontrar o cenário um pouco mudado. A festa continua sendo organizada no Riocentro, que talvez seja o único espaço na cidade amplo o bastante para receber tamanho número de expositores e visitantes. Infelizmente, continua sendo um pesadelo chegar no Riocentro – especialmente agora, com todas as obras de BRT, Metrô e até do Rock in Rio acontecendo no caminho. Saí ontem às 9 da manhã e cheguei às 11h15. Metade desse tempo foi gasta só no trajeto entre o Terminal Alvorada e o Riocentro. Como escreveu o Zuenir Ventura na quarta-feira, a Bienal do Rio é muito legal, pena que fique na Barra da Tijuca e não no Rio.

Como autor e tendo vindo de transporte público, não tive que pagar um centavo para entrar no evento propriamente dito. É uma das coisas que me aborrece na Bienal, aliás: o local é afastado, é complicado ir embora de transporte público, por causa dos engarrafamentos ou do sumiço dos ônibus depois de certa hora; é preciso pagar um ingresso não muito barato e o estacionamento idem. E trate de levar um lanchinho, porque todos os quiosques de alimentação lá não têm vergonha de cobrar duas ou três vezes mais do que em outros lugares. Um almoço executivo com promoção “para estudantes” sai por volta de 50 reais.

Sobre a Bienal em si: muitos, muitos jovens presentes. Inúmeros ônibus de excursão lotavam os pátios e injetavam milhares de estudantes de escolas públicas de todas as séries no Riocentro. Lá dentro, os stands mais diversos estavam sempre cheios de crianças e jovens folheando livros. Verdade que a maioria dos títulos que compravam eram os livros “da moda”, ou quadrinhos em promoção por 5,50, ou os mangás mais populares – mas isso não chega a ser um problema. O nome do jogo é “literatura de entretenimento”, e se é isso que a garotada compra, é isso que as livrarias vão vender. Naturalmente, os stands que mais enchiam eram o da Comix, o da Panini e os das editoras e livrarias com os romances baseados em videogames da série Assassin’s Creed e similares.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado à literatura religiosa. Vi uns cinco ou seis stands de livrarias religiosas, sem contar o das tradicionais Edições Paulinas e Loyola, que sempre estiveram lá (pelo tanto que me lembro, ao menos). Muitas eram especializadas em livros evangélicos e neopentecostais. Havia um curioso stand sobre o Alcorão, com a presença de um clérigo barbudo de óculos e várias mulheres com a cabeça coberta e a face à mostra. Fiquei com vontade de olhar este último mais de perto, mas algo no olhar do clérigo me intimidou. Ele, as mulheres e o stand pareciam estar lá para angariar convertidos…

Havia alguns stands de livros esotéricos também e muitos, incontáveis títulos de auto-ajuda espalhados por toda a bienal. Será que sempre foi assim, ou eu passei a reparar mais nisso agora? Fica a dúvida.

Senti muita falta da presença de livros técnicos na área de exatas nos stands das livrarias de universidades. Havia um bocado dos títulos nas áreas de sociologia, história e filosofia, além das arengas de sempre contra e a favor do comunismo e do capitalismo. Como eu adoraria que os dois sistemas morressem de uma vez e nos deixassem desenvolver algo mais apropriado ao século XXI!

O pequeno stand da LeYa tinha o meu livro (yay!) e vários outros. É uma editora muito eclética, com livros em todas as áreas. Um dos novos lançamentos era o livro de um pastor evangélico que afirmava que a física quântica provava a existência de Deus e dos milagres – que, é claro, estava em maior destaque que o Pura Picaretagem. Fazer o quê, não é mesmo? Ali na LeYa comprei um “História Ilustrada da Física Quântica”, um livrinho delicioso altamente recomendado. Encontrei meu primo ali, e percorri o resto da feira com ele.

Não tive muita oportunidade de olhar as estantes com a calma que gosto, por causa do barulho da garotada e das filas imensas por toda a parte. Para falar a verdade, tinha acordado passando não muito bem, então não tive disposição para ficar até as 16h, quando haveria uma palestra que eu tinha alguma vontade de assistir. O prospecto de pegar o trânsito do Rush no Recreio e na Barra não me animou muito também… assim, depois de rodar nos três pavilhões por duas vezes e depois de desistir de comprar Os Companheiros do Crepúsculo no stand da Comix (o desconto não estava atraente), resolvi encarar as duas horas de volta para casa.

Foi um bom reconhecimento de terreno.

Pretendo voltar lá no último dia, domingo dia 8. Com sorte, haverá menos estudantes simpaticamente barulhentos e um pouco mais de tempo para olhar os livros com calma. Se vocês estiverem por lá, apareçam no stand da LeYa — E07, Pavilhão Azul — e a gente bate papo. Até lá!

Fugaz perfeição

08/08/2013

Existem certas horas aqui em casa, conjugadas com a proporção correta de umidade no ar em que o por do sol fica absolutamente perfeito. Hoje eu tive uma dessas horas, completa com uma Lua quase nova e um brilhante planeta Vênus mais alto no céu.

As cores parecem mais reais. O azul, o negro, o vermelho, o dourado são reduzidos talvez às suas representações mais quintessenciais. Tudo é equilibrado por um ou dois minutos… para então a perfeição passar e mergulharmos no mundo imperfeito e irreal das cores cotidianas.

Em horas assim eu fico grato por não ter uma câmera fotográfica boa. Eu poderia ficar tentado a capturar a perfeição — e isso é impossível. Melhor aproveitá-la como puder, um entardecer de cada vez.

De crises de descrença, misticismos e mistificações

08/08/2013

Já faz algum tempo que ando passando pelo que chamo de “crise de descrença”. Não é que eu tenha subitamente voltado à igreja cristã que eu frequentava na juventude, nem que tenha me convertido a alguma nova seita. Não, continuo o mesmo cético de sempre, mas apenas… bem, apenas tenho o costume de questionar tudo o tempo todo, até mesmo o meu ateísmo. Não vou comentar muito sobre isso por aqui, já que é algo extremamente pessoal, mas a nota merece aparecer por uma questão de integridade intelectual.

O curioso nessas horas é que sempre começamos a prestar atenção em textos e ideias religiosas que de outra forma passariam batidas. No meu caso, acabei esbarrando num trecho interessante sobre a natureza do Budismo – sobre o que ele não é, segundo o autor.

Desde que deixei de me identificar com o cristianismo, o budismo sempre me pareceu uma opção interessante. É uma religião, claro, mas é uma religião com uma filosofia bastante peculiar. Sou muito atraído por alguns de seus ensinamentos, em particular os que falam sobre desapego, sobre a necessidade da anulação dos egoísmos e, pelo menos de acordo com o atual Dalai Lama, sobre a saudável relação que se deve manter com o ceticismo. Enfim, gostei muito do blog “Sobre Budismo”, linkado aí em cima, e sobre a listinha elaborada. O site faz parte de um anel de outras páginas budistas, quase todas tão interessantes quando o blog. O legal a respeito da maior parte das vertentes do budismo é que elas orientam seus praticantes a não seguir cegamente orientação alguma, mas que continuem sempre em busca, testando o conhecimento adquirido para ver se continua sendo útil em suas vidas.

O maior problema com as vertentes do budismo que conheci, entretanto, é que elas não parecem seguir o próprio conselho.

Vejam, não estou querendo generalizar. Não me considero especialista, de modo algum. E nunca realmente pesquisei o budismo a fundo (isso pode mudar em breve). Mas todas as vezes que encontrei templos, páginas ou qualquer material dedicado à religião, sempre me pareceu que havia um “pacote” a ser adquirido pelo praticante — reencarnação, transmigração, veneração de gurus ou personalidades específicas, e por aí afora. Ou seja, como em todas as religiões que encontrei nesta vida, me parece que os vários tipos de budismo também sofrem de pequenos dogmas que, para mim, são meio impalatáveis. Especificamente, vasculhando no anel de páginas budistas acima mencionado, encontrei um convite para uma palestra (paga, é óbvio) sobre física quântica e espiritualidade, apoiada por um tal “Instituto Sabedoria Quântica”. Uau.

Eu realmente não entendo. De todas as religiões que conheci, o Budismo é, de longe, a que me soa mais interessante. E mesmo assim, tem gente que parece não se contentar que ela forneça um arcabouço filosófico capaz de enfrentar as questões espirituais da existência — não, essa gente precisa que sua crença favorita também forneça respostas prontas para a natureza física do universo. E isso, crise de descrença ou não, eu nunca mais vou conseguir engolir.

Talvez fosse a hora para os religiosos encararem suas crenças de frente e entenderem que as dúvidas e os questionamentos podem ser muito mais frutíferos do que as respostas prontas — que dúvidas e questionamentos podem ser um bom caminho para alcançar a tal da serenidade e da sabedoria que todas as religiões prometem. Qualquer que seja o resultado da minha crise de descrença, acho que meu caminho deve ser esse. Vamos ver até onde ele vai…

Aconteceu

21/06/2013

Autores

E aconteceu.

Grato a todo mundo que esteve lá, ainda que em espírito!

Pura Picaretagem já está disponível nas melhores livrarias e também na Amazon.com.br em forma de ebook!

É hoje!

20/06/2013

Em grande companhia.O bom terremoto político que ora sacode o país fez com que uma torrente de emoções me tomassem de assalto nesta semana. Mas, se me permitem um momento de auto-congratulação, basta olharem para a imagem que abre o post. Estamos em ótima companhia, Carlos Orsi e eu.

O evento de lançamento de Pura Picaretagem acontece hoje, às 19h na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. Nos vemos por lá! Agradeço à amiga Flavia Budant pela imagem!

O verdadeiro teste

14/06/2013

Na última segunda-feira ainda estávamos discutindo os méritos das manifestações ocorridas em várias capitais sobre o recente aumento das passagens de ônibus. Como se sabe, a inflação voltou a exibir sua cara medonha, e o governo federal pediu aos prefeitos das maiores metrópoles que segurassem o aumento tradicional da virada do ano, para ajudar no controle da alta de preços. E como também se sabe, a despeito de mudanças dos juros e de desonerações de impostos, as passagens aumentaram agora. Como resposta, vários movimentos populares surgiram para protestar, exigindo que os preços voltassem ao patamar anterior, especialmente no Rio e em São Paulo, onde existe uma organização dedicada a exigir passe livre para transporte público. E ontem, dia 13 de junho de 2013, as maiores passeatas de protesto até agora foram reprimidas com tanta dureza que até mesmo a Folha de São Paulo amenizou o discurso intempestivo que vinha apregoando em seus editoriais (pelo menos por ora), depois que alguns de seus repórteres foram atingidos por balas de borracha. Ao menos nisso a democracia foi aplicada: sobrou porrada para todo mundo, sem distinção.

Não vamos torcer os fatos. Vandalismo é errado. Destruir a propriedade pública ou privada para protestar é errado. Não se tratava de nenhuma Tomada da Bastilha, não obstante as piadinhas exageradas que circulavam desde segunda-feira. É muito mais legítimo protestar, seja lá pelo que for, de maneira firme, porém pacífica. Nos protestos de ontem no Rio de Janeiro, relatos davam conta de que a própria multidão procurava impedir quando alguém tentava vandalizar alguma coisa. De fato, a bicho só pegou aqui no Rio depois que a maioria da manifestação já tinha se dispersado e ido embora, restando uns poucos que resolveram enfrentar os policiais. Como sempre acontece, relatos divergentes apareceram sobre quem teria provocado quem.

Mas será que os protestos são mesmo por causa do aumento da passagem? Eu penso que não. Acho que o aumento foi o derrame de uma fervura que já estava em ebulição lenta a algum tempo. A palha que quebrou a espinha do camelo, se quiserem. Por isso mesmo, suspeito que nos próximos dias veremos o verdadeiro teste sobre o caráter desses protestos.

Se os protestos morrerem sem que nada aconteça, terão se juntado à longa lista de manifestações frustradas deste país. Triste, mas nem um pouco inédito. Mas se prosseguirem, e se conseguirem forçar uma redução no preço das passagens, o caminho estará aberto para que outros movimentos surjam, talvez pedindo por coisas um pouco mais abstratas. Só que aí, na falta de um foco tão estreito como o de agora, será difícil animar as pessoas a sair de casa. É mais provável que os mesmos cínicos de sempre voltem às redes sociais para continuar lamentando o povo não se levanta para nada, em um exemplo de singular, canhestra e irônica passividade.

Ou seja, o verdadeiro teste do movimento não é se as passagens vão baixar ou não. É em como ele terá mudado cada uma de nossas reações depois que ele acabar.